Rainha em trapos

Β«Rainha em traposΒ», chamavam-na. Antes andarilha, assentava-se agora em trono xexelento, lixo cenogrΓ‘fico de alguma companhia de teatro. A qualquer que passasse perto dela, encarando-a, concedia retribuir um sorriso condescendente e um aceno de mΓ£o, entendendo que a ela agradeciam algum favor.
Antes da aurora, levantava-se e ordenava ao sol que amanhecesse; antes do ocaso, o contrΓ‘rio: que anoitecesse. Em certa data, por capricho, decidiu que nΓ£o haveria nem raiar nem cessar de raiar naquele dia, e ordenou ao Sol que nem ousasse despontar. Negou-se o Sol a obedecer simplesmente cumprindo seu diuturno trajeto.
β A esse rebelde, matem-no!
[revista gueto: 2017]